Quando olhamos para as fotografias de Augusto Malta feitas no começo do século XX, não podemos deixar de sentir um dor ao perguntar-nos como foi possível que deixamos a gloriosa Avenida Central se transformar na monstruosa avenida Rio Branco que temos hoje em dia?
Augusto Malta era o fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro durante a primeira década de 1900. Seu trabalho retratou as importantes mudanças ocorridas no centro da cidade durante esse período. Dentre as importantes transformações, ele flagrou o desmanche do morro do castelo e a construção da gloriosa Avenida Central durante a administração do prefeito Pereira Passos.
A Avenida Central é um capitulo a parte na história da cidade. Vendo as fotografias de Malta nós percebemos que o gosto do brasileiro pela boa arquitetura eclética foi se deteriorando com o passar do tempo. Cada vez que vou ao centro da cidade me pergunto como foi que deixamos isso acontecer? O Rio de Janeiro é conhecido como uma cidade maravilhosa, mas infelizmente, não pode ter a fama de ser uma cidade inteligente, sobretudo se analisarmos o desenvolvimento de seu urbanismo e de sua arquiterura ao longo dos anos. O desmanche da arquitetura eclética no centro demonstra que a preservação da memória histórica não é o forte por aqui. Diferentemente das capitais europeias que insipiraram a cidade no começo do século, os cariocas permitiram o desmanche desse estilo arquitetônico e de sua história urbana.
É como se a cidade houvesse vivido uma crise existencial, ou uma crise de personalidade, sem saber ao certo se seu estilo era o europeu ou o americano. Ao longo do tempo a legislação foi permitindo que seus prédios neo clássicos de estilo parisiense dessem lugar a torres quadradas e arranha-céus ao estilo de Manhattan. Não tenho nada contra ao estilo americano, mas foi um erro imperdoável não ter preservado os prédios ecléticos e conservar um centro histórico em toda sua integridade, unidade e coerência de formas. Seria mais inteligente, por exemplo, ter criado um centro financeiro em outro lado da cidade, como próximo ao aeroporto do Galeão onde hoje está o complexo do alemão. Além de ter perdido a oportunidade de organizar o espaço urbano, essa falta de planejamento favoreceu a ocupação irregular e desordenada que nos dias de hoje atingiram o estágio de irreversível.
É certo também, que o processo de favelização e informalidade acentuou-se justamente no período das reformas promovidas por Pereira Passos, uma vez que a colocação, ou uma politica habitacional que desse dignidade à mão de obra que realizou a empreitada não fazia parte do planejamento de modernização da malha urbana. O mesmo erro que ocorrera em Brasília.
Olhar para as fotos do Rio antigo é simplesmente um ato de nostalgia e lamentação. E reparar que nossa sociedade não aprende com os próprios erros. São Paulo também passou por um processo parecido, talvez muito mais vertiginoso que no Rio. Eu não sou arquiteto nem urbanista, mas quando ando pela cidade não deixo de pensar em como elas eram, e como elas poderiam ter sido. Infelizmente, lamento muito essa arquitetura de janelas quadradas e sem alma que dominam nossa paisagem, sem entender direitos aonde foram parar nossos arquitetos ecléticos, e no que passou pela cabeça dos modernos que não tem gosto por detalhes sigelos de prédios como o Theatro Municipal, ou o Museu de Belas Artes – dando lugar à essas linhas retas e mortas que dominam nossa paisagem nos dias atuais.
A Belle Époque nao era tão Belle: o Rio era chamada “cidade da morte”, por causa da alta incidência de febre amarela, poliomielite, tuberculose, tifo, varíola, etc. Não havia sabonete, luz na maioria das cidades do mundo, as ruas fediam urina e bosta de cavalo, a medicina era ridiculamente atrasada etc etc.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Bem observado Heraldo. O saneamento era precário e a cidade tinha muitos problemas como esses que você citou. A nostalgia que me referi se relaciona mais com o estilo da arquitetura que ao meu ver era muito mais bela do que os prédios que sucederam o período eclético da cidade. Obrigado pelo comentário. Abraço
CurtirCurtir